A economia cearense e a economia brasileira em 2011*

PEDRO JORGE RAMOS VIANNA

ECONOMISTA-CHEFE DO ECONOMETRIX

O ano de 2011 não foi um bom ano nem para a economia cearense, nem para a economia brasileira. De fato, analisando-se as estatísticas chamadas “macroeconômicas” para o Ceará, verificamos que as taxas de crescimento apresentadas para todas as variáveis listadas na Tabela 1, a seguir, apresentaram comportamento aquém daqueles apresentados em 2010. Mormente para aquelas referentes ao Setor Industrial.

Se olharmos para as estatísticas do PIB, verificamos que em 2010, a economia cearense cresceu 7,9%, enquanto em 2011 esta variação foi de, apenas, 4,3%.

No que diz respeito ao setor industrial cearense, em particular, verificamos que o valor adicionado da indústria variou, em 2010, de.9,70%; enquanto em 2011 tal variação foi de 0,5%.

Por outro lado, em 2010, a produção industrial cearense cresceu   9.,05% %, enquanto em 2011, apresentou uma substancial queda: -11,7%.

A geração de emprego no setor industrial do Ceará, em 2010, foi de 30.854, enquanto em 2011 foi de apenas, 9.377.

Finalmente, temos o comportamento das exportações industriais. Enquanto em 2010 o setor apresentou um crescimento de 21,27%, em 2011 este crescimento foi de, tão-somente, 6,57%.

Olhando-se para as mesmas estatísticas do Brasil, o comportamento é muito similar. Apenas a produção industrial diverge em sentido: a produção industrial brasileira conseguiu apresentar resultado positivo. Embora pífio.

O que terá causado este comportamento tão tacanho para as duas economias? Normalmente são levantados os seguintes argumentos:

TABELA 1

CEARÁ E BRASIL

VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS

2010  e  2011

  VARIÁVEISCEARÁ CEARÁ BRASIL BRASIL
2011201020112010
PIB Nominal (R$ mlhões)*84.36580.8864.099.1663.991.398
PIB –  Taxa de Crescimento (%)4,307,902,707,50
VAI – Taxa de Crescimento (%)0,509,701,6010,40
PRODUÇÃO INDUSTRIAL – Taxa de Crescimento (%)-11,709.050,2510,30
GERAÇÃO DE EMPREGO  NO SETOR INDUSTRIAL – Valor Nominal9.37730.851472.288916.427
GERAÇÃO DE EMPREGO NO STOR INDUSTRIAL – Taxa de Crescimento (%)2,739,984,268,98
EXPORTAÇÕES DE PRODUTOS INDUSTRIAIS (US$1,000.00)905,380849,535128,522,436107,993,373
ESPORTAÇÕES DE PRODUTOS INDUSTRIAIS –  Taxa de Crescimento (%)6,5721,2719,0122,66
Fontes – IPECE, IBGE, MIDC. *Estimativas

 

  • O elevado custo Brasil;
  • A elevada taxa de juros;
  • A elevada carga tributária;
  • O elevado custo da mão de obra;
  • Real sobrevalorizado;
  • A crise internacional;
  • A concorrência chinesa;
  • Para o Ceará, a composição de seu parque fabril, formado primordialmente por indústrias de transformação.

Sobre tais argumentos é importante esclarecer o seguinte: todos estes condicionantes não existiam em 2010? Ou eram de menor monta?

Na Tabela 2, abaixo, mostramos quais eram os valores associados a tais condicionantes.

Como se pode ver, as condicionantes em 2011 variaram para pior (custo Brasil, taxa de juros, crise internacional) enquanto outras praticamente não mudaram (carga tributária e custo dos encargos sociais). Por outro lado, a sobrevalorização do Real diminuiu. Finalmente, as importações da China variaram, de US$24.600 bilhões, em 2010, para US$32.800 bilhões, em 2011. Mas as importações chinesas, embora volumosas, representam somente algo em torno de 14,0%% das importações totais do Brasil. Portanto, será válido dar tanta importância a essa variável, em termos globais? É claro que para alguns setores, como têxtil, essa importação tem bastante peso, isto porque as importações de tecidos de malha da China, em 2010, somaram US$460.0 milhões. Mas em termos da economia brasileira como um todo, não nos parece muito relevante, muito embora chame a atenção que 97,50% das importações da China são de produtos manufaturados, dos quais 24,60% são de bens de consumo (bens produzidos pela nossa indústria de transformação, dados de 2010).

Vale chamar a atenção que taxa de juros, carga tributária e custo da mão de obra entram no cálculo do custo Brasil. Mas pelo que se pode ver, não foram estas variáveis que fizeram tal custo se elevar tanto. Muitas outras variáveis como a logística de transporte podem ter aumentado tal custo.

TABELA 2

OS CONDICIONANTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL

CONDICIONANTESANOS
20102011
Estimativas do Custo Brasil (%)36,7043,00
Taxa de Juros – SELIC (% a.a.) – média do ano9,0011,00
Carga Tributária (%)35,0435,05
Custo da Mão de Obra: Percentual dos Encargos Sociais sobre os Salários (dezembro)  175,26174,71
Sobrevalorização do Real: diferença sobre a Taxa de Paridade (%)  460,97320,74
Crise Internacional: dívida dos países europeus (€ bilhões)  329.3511.450
Concorrência Chinesa: valor das importações (US$ milhões)  24,60032,800
Fontes: BACEN, IBGE,  MDIC, SINDUSCONSP,  EQUIPE ECONOMETRIX;

Nas Tabelas 3 e 4 apresentamos os setores que mais sofreram com a crise internacional, tanto no Brasil, como no Ceará. Veja-se que os setores da Indústria de Transformação que mais sofreram são basicamente os mesmos.

TABELA 3

CEARÁ

PRINCIPAIS SETORES AFETADOS PELA CRISE INTERNACIONAL

  REGIÕESSETORES AFETADOS
QUEDA NAS EXPORTAÇÕESPERCENTUAL (%)QUEDA NO EMPREGOPERCENTUALQUEDA NA PRODUÇÃOPERCENTUAL
CEARÁBebidas
Metal-Mecânico Calçados
Castanha de Caju
-44,9
-14,5
-9,3
-7,9
Calçados
Têxtil e Vestuário
-3,26
-1,34
Maq.& Ap. Elet..
Têxtil
Petro & e Deriv.
Calçados
Prods. Metal
Vestuário
Min. Não-Metál.
Metalurgia Básica Alim. & Bebidas
-27,5
-25,2
-24,0
-22,2
-21,2
-11,6
-2,5
-1,5
-1.2
Fonte – IBGE, MDIC, TEM

TABELA 4

BRASIL

PRINCIPAIS SETORES AFETADOS PELA CRISE INTERNACIONAL

REGIÃOQUEDA NAS EXPORTAÇÕES PERCENTUAL(%)QUEDA NO EMPREGOPERCENTUAL (%)QUEDA NA PRODUÇÃOPERCENTUAL (%)
  BRASILConfecções Calçados Castanha de Caju-24,6
-9,0
-1,3
Calçados Têxtil e Vestuário-2,74
-1,19
Têxtil
Calçados e Art. Couros
Maq.& Equip
Esc.
Vestuário & Ac.
Maq. E Mat. El.
Prod. Químicos
Bor. e Plasrico Perfumaria
Madeira
Met. Básica Bebidas   Alimentos
-14,9
-10,4

-5,0

-4,4
-3,7
-2,1
-1,3
-1,1
-0,9
-0,4
-0,2
-0,2
Fonte – IBGE, MDIC, TEM

Para o caso do Estado do Ceará, a última condicionante não parece ser relevante, haja vista que, como mostrado na Tabela, acima, os setores mais afetados no ano de 2011 são praticamente os mesmos que aqueles que foram afetados na economia brasileira

Desta forma, pode-se inferir que o grande vilão por um desempenho tão pífio da economia brasileira e da economia cearense foi, sem dúvida, o famoso custo Brasil.

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