Reino Unido facilita visto para atrair pedreiros e pode beneficiar brasileiros

Sam Francis
Repórter de política, BBC News


As regras de visto para trabalhar no Reino Unido estão sendo facilitadas para pedreiros, carpinteiros e indivíduos que atuam no setor pesqueiro no exterior, confirmou o Ministério do Interior britânico.

Reparadores de telhados e gesseiros também foram adicionados à lista de ocupações com escassez de mão de obra.

Pela medida, áreas nas quais há dificuldade para o preenchimento de vagas têm restrições de visto temporariamente reduzidas.

Assim, profissionais que atuam nessas áreas com escassez de mão de obra podem solicitar um visto de trabalhador qualificado (skilled worker, no original em inglês) para atuar no Reino Unido.

Para pedir o visto, o profissional precisa obter uma oferta de trabalho de um empregador no Reino Unido antes de dar entrada no visto, além de atender aos requisitos do idioma inglês.

O profissional interessado em migrar tem o benefício de pagar taxas de visto mais baixas. A categoria também segue regras mais flexíveis em relação ao valor do salário exigido para aplicar para o visto.

A lista de ocupações com escassez de mão de obra é revisada a cada seis meses pelo Migration Advisory Committee (MAC), órgão que aconselha o governo britânico para assuntos de migração. Uma nova revisão está prevista para ocorrer a partir de setembro.

O governo negou que a medida contradiz as tentativas de reduzir a imigração.

O Partido Conservador, vencedor das eleições gerais de 2019, comprometeu-se a reduzir o número de imigrantes, sem estabelecer uma meta específica. “Queremos garantir que tenhamos uma força de trabalho doméstica especialmente treinada”, acrescentou o partido na ocasião.

O MAC recomendou cinco profissões para serem incluídas na lista:

  • Pedreiros
  • Reparadores de telhados e ladrilheiros
  • Carpinteiros e marceneiros
  • Profissões afins nos serviços de construção civil
  • Gesseiros

O parlamentar conservador Marco Longhi descreveu o anúncio do governo como “maluco”, acrescentando: “O vício deste país na imigração como uma solução para tudo precisa parar”.

“Precisamos reformar as universidades e treinar nosso próprio pessoal por meio de estágios e outros meios e produzir pessoas prontas para o trabalho”, acrescentou.

O Ministério do Interior também adicionou profissões associadas ao comércio de peixes à lista, juntamente com “ocupações agrícolas elementares”.

O governo está reduzindo as restrições à indústria pesqueira como parte de uma reforma mais ampla no setor — que inclui um Fundo de Frutos do Mar do Reino Unido de 100 milhões de libras (R$ 630 milhões).

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, já havia se queixado de que a migração para o Reino Unido é “muito alta”, depois que a migração líquida (a diferença entre os migrantes que entram e saem) atingiu níveis recordes no ano passado.

Segundo o Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS, na sigla em inglês), o IBGE britânico, o país ganhou mais de 606 mil imigrantes em 2022.

Em um discurso em maio, a secretária do Interior, Suella Braverman, pediu que as empresas do Reino Unido treinem cidadãos britânicos em áreas com escassez de mão de obra em uma tentativa de reduzir a imigração.

A revisão conduzida pelo MAC, publicada em março, constatou que as vagas aumentaram acentuadamente nos setores hoteleiro e construção, em relação aos níveis pré-pandemia.

Os conselheiros do órgão de migração não recomendaram a inclusão de nenhuma ocupação da indústria hoteleira, embora tenham dito que o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) e a pandemia tiveram “efeitos significativos” em ambos os setores.

O número de vagas subiu 65% no setor de construção em comparação com os níveis pré-pandêmicos, segundo o relatório do MAC. Isso se compara a um aumento de 42% na economia como um todo.

Adicionar trabalhadores da construção à lista de escassez não faria uma grande diferença nos números gerais de migração, acrescentou o órgão de migração.

O comitê informou que sua revisão foi baseada em critério que avaliou se uma ocupação representou mais de 0,5% da força de trabalho de um determinado setor e se seus vencimentos ficaram abaixo do limite geral exigido para migrantes — segundo a regra geral, é exigido um salário de pelo menos 26,2 mil libras (R$ 165 mil) por ano para os vistos de trabalho.

O MAC disse que também considerou a “importância estratégica da construção para a economia do Reino Unido” e como sua força de trabalho provavelmente mudará na próxima década, com a previsão de que “a demanda provavelmente aumentará acentuadamente”.

Em 3 de julho, um grupo de parlamentares conservadores defendeu políticas para reduzir drasticamente a migração, alertando que o não cumprimento delas “corre o risco de corroer a confiança do público”.

Eles propuseram a concessão de vistos apenas para trabalhadores qualificados que ganham mais de 38 mil libras (R$ 240 mil) por ano.

Atualmente, na maioria dos casos, os estrangeiros precisam ganhar pelo menos 26,2 mil libras (R$ 165 mil) para pedir um visto de trabalhador qualificado. Mas essa exigência pode cair para 20,96 mil libras (R$ 132 mil) no caso de emprego da lista de escassez.

Fonte: BBC News | Brasil
Fotografia: PA MEDIA

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