Monica Miller e Peter Hoskins
BBC News
A libra esterlina — a moeda britânica — caiu para o menor patamar na história em relação ao dólar, à medida que os mercados reagem ao maior corte de impostos do Reino Unido em 50 anos.
No início das negociações no mercado asiático, a libra caiu para perto de US$ 1,03 antes de se recuperar e ser cotada a cerca de US$ 1,06 na manhã desta segunda-feira (26/09), horário do Reino Unido.
O novo ministro das Finanças do Reino Unido, Kwasi Kwarteng, prometeu mais cortes de impostos além do pacote de 45 bilhões de libras (mais de R$ 250 bilhões) anunciado na sexta-feira (23/09), em meio a expectativas de aumento no endividamento.
A libra também tem estado sob pressão devido à força do dólar.
O euro também atingiu uma nova mínima de 20 anos em relação ao dólar nas negociações desta manhã na Ásia, em meio a preocupações dos investidores em relação ao risco de recessão à medida que o inverno se aproxima, sem sinais do fim da crise de energia ou da guerra na Ucrânia.
Se a libra permanecer neste baixo patamar em relação ao dólar, as importações de commodities cotadas em dólar, incluindo petróleo e gás, vão ficar mais caras. Outras mercadorias americanas também podem ficar consideravelmente mais caras para consumidores britânicos. E os turistas que visitam os EUA vão descobrir que o dinheiro das férias não vai render tanto quanto antes da queda da libra.
Há também preocupações de que os cortes de impostos e um aumento na dívida pública alimentem a alta inflação e forcem o Banco da Inglaterra, o banco central inglês, a aumentar ainda mais as taxas de juros. Isso aumentaria os custos mensais de empréstimos para compra de imóveis para milhões de proprietários.
Na semana passada, o Banco elevou as taxas de juros em meio ponto percentual, para 2,25%, para tentar acalmar a inflação, que está em 9,9%, a maior em 40 anos. O aumento da taxa foi o sétimo consecutivo — e levou as taxas ao patamar mais alto em 14 anos.
No entanto, alguns economistas especulam que o Banco pode convocar uma reunião de emergência ainda nesta semana para aumentar as taxas de juros novamente.
Na sexta-feira, o ministro Kwasi Kwarteng anunciou uma grande reestruturação dos impostos do Reino Unido durante a apresentação de um “mini-orçamento”, como ele definiu, para impulsionar o crescimento econômico.
De acordo com os planos, que ele saudou como uma “nova era” para a economia, o imposto de renda e o imposto conhecido como stamp duty (sobre a compra de imóveis) serão cortados, e os aumentos planejados nos impostos sobre as empresas foram descartados.
Kwarteng afirmou que uma grande mudança de rumo era necessária para impulsionar a economia do Reino Unido.
O Partido Trabalhista, de oposição, afirma que o pacote do governo não resolve a crise do custo de vida — e é um “plano para beneficiar os que já são ricos”.
“Internacionalmente, as pessoas perderam a confiança neste governo. O mini-orçamento foi um choque para todos”, declarou o ex-chanceler John McDonnell, do Partido Trabalhista, na BBC.
Em conversa com a BBC no domingo, Kwarteng disse que quer continuar cortando impostos.
Peter Escho, cofundador da empresa de investimentos Wealthi, afirma que diversas moedas estão perdendo força diante do dólar..
“Todas as moedas estão sendo vendidas em relação ao dólar americano, então há um grande elemento de força do dólar americano.”
Os volumes de negociação na Ásia também foram baixos, o que pode fazer com que os movimentos na negociação cambial pareçam mais pronunciados.
“Mas com a libra, isso foi realmente exacerbado pelas notícias de que o novo governo cortará impostos, o que é inflacionário”, observa Escho.
“Acrescente a isso os recentes subsídios de energia e as notícias de que o Banco da Inglaterra pode precisar ter uma reunião de emergência para aumentar as taxas de juros, tudo isso resulta em uma sensação de pânico”, acrescenta.
Alguns investidores acreditam que o Banco da Inglaterra será forçado a tomar medidas de emergência para deter a queda da libra.
“Para parar o sangramento, mesmo que temporariamente, o Banco da Inglaterra pode entrar no território do ‘que for preciso’ para reduzir a inflação. Uma reunião de emergência para aumento da taxa de juros pode acontecer ainda nesta semana para recuperar a credibilidade no mercado. Poderíamos até ver este aumento hoje”, diz Stephen Innes, sócio-gerente da SPI Asset Management, à BBC.
Fonte: BBC News | Brasil
Fotografia: REUTERS