A Nova Frente Popular (NFP), coligação de partidos de esquerda, obteve o maior número de cadeiras no Parlamento da França no segundo turno das eleições legislativas no país, realizado no domingo (7/7), de acordo com as projeções. Um resultado surpreendente após a direita radical ter alcançado uma vitória histórica no primeiro turno.
Mas a coligação de esquerda não conseguiu maioria para governar, deixando a França diante de um impasse.
O resultado final ainda não foi divulgado, mas as projeções mostram que o partido de direita radical Reunião Nacional, de Marine Le Pen, ficou em terceiro lugar, atrás da coligação do presidente francês Emmanuel Macron, a Ensemble! (Juntos).
Dos 577 assentos da Casa, as projeções indicam que 182 devem ficar com a coalizão de esquerda, 168 com a aliança Ensemble!, e 143 com o Reunião Nacional e seus aliados. Para obter a maioria absoluta, são necessários 289 assentos.
O primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, anunciou que pediria a renúncia do cargo nesta segunda-feira (8/7), depois que a aliança do presidente Macron perdeu maioria. Mas Macron pediu que Attal permaneça no cargo, “em prol da estabilidade do país”, até que a situação se defina.
O líder da frente de esquerda, Jean-Luc Mélenchon, disse que sua coligação está “pronta para governar”, após a divulgação das projeções do resultado.
Especialistas descreveram estas eleições como as mais polarizadas da história recente da França.
Mesmo antes do fechamento das urnas, a taxa de participação dos eleitores já era a maior em mais de 40 anos.
Para deter a chegada da direita radical ao poder, que obteve uma vitória histórica no primeiro turno, a coligação de Macron e a esquerda decidiram unir forças.
Os centristas e esquerdistas retiraram mais de 200 candidatos da disputa para concentrar os votos nos nomes mais bem colocados.
Ou seja, em muitos dos distritos eleitorais onde concorriam três candidatos (um da direita radical e dois de centro ou esquerda), restaram apenas dois.
A estratégia tinha como objetivo garantir que os votos não fossem dispersos e que os eleitores votassem na alternativa contra Le Pen, seja ela da coligação centrista de Macron ou da esquerda.
Diferentemente do Brasil e de vários países, as eleições legislativas na França têm dois turnos. É possível ter uma votação com três ou mais candidatos no segundo turno.
Para isso, é necessário ter 12,5% dos votos dos eleitores inscritos. Quanto maior a participação do eleitorado, aumentam as possibilidades de mais candidatos chegarem ao segundo turno.
Cerca de 30 mil policiais foram mobilizados para o esquema de segurança para a eleição francesa. Apesar de alguns incidentes isolados, não houve ocorrências de gravidade até o fim da noite de domingo no horário local.
Decepção para a direita
Jordan Bardella, protegido de Marine Le Pen e que era cotado para ser o novo primeiro-ministro francês em caso de uma vitória do RN, declarou que a aliança “não natural” e “desonrosa” entre esquerdistas e a coligação de Macron impediu a vitória de seu partido.
“Hoje à noite essas alianças jogaram a França nos braços da extrema esquerda de Jean-Luc Mélenchon”, disse Bardella.
O presidente Macron, segundo o palácio presidencial francês, “está analisando” os resultados, e não se pronunciou até agora.
Seu premiê, Gabriel Attal, anunciou que vai pedir a renúncia do cargo nesta segunda-feira (8/7).
A vitória projetada para a esquerda daria a possibilidade de a coligação esquerdista ocupar o cargo de primeiro-ministro.
Pelo sistema político francês, o presidente se concentra na defesa nacional e questões de política exterior, enquanto supervisiona o funcionamento de todas as entidades governamentais na França.
Já o premiê foca nas questões domésticas. Normalmente essa formação funciona em harmonia entre as duas partes.
Sem nenhuma força política com maioria absoluta no Parlamento, de acordo com as projeções, negociações terão que ocorrer.
Quem forma a coligação de esquerda
A Nova Frente Popular é uma aliança de socialistas, ecologistas, comunistas e da França Insubmissa (LFI), partido de Mélenchon.
A coligação foi formada depois que Macron convocou eleições parlamentares antecipadas no último dia 9 de junho.
Estes partidos têm diferenças importantes de pensamento e abordagem e já trocaram críticas anteriormente. Mas decidiram formar um bloco para manter a extrema direita fora do governo.
A NFP prometeu anular as reformas na Previdência e na imigração aprovadas pelo atual governo, criar uma agência de resgate para imigrantes sem documentos e facilitar pedidos de visto.
Pretende também impor limites a reajustes de bens básicos para combater a crise do custo de vida e fala em aumentar o salário mínimo.
Fonte: BBC News | Brasil
Fotografia: EMMANUEL DUNAND/AFP VIA GETTY IMAGES