Pedro Jorge Ramos Vianna
Professor Titular da UFC. Aposentado
A Prefeitura de Fortaleza anunciou que agora em setembro haverá a licitação para as obras de ampliação da faixa de areia das praias de Iracema e Beira Mar.
A justificativa é corrigir os efeitos da erosão na faixa litorânea.
A prefeitura argumenta que a areia virá de dentro do próprio mar. Isso significa que o mar não irá intensificar o processo de erosão que acontece nas praias do litoral oeste, como o que já ocorre com a Praia do Icaraí?
O mar é uma massa uniforme. Se lhe apertam aqui, ele irá intensificar o processo de erosão em outro lugar.
E quem pagará por este processo? Os municípios à “jusante”?
O Prefeito afirma que os “estudos técnicos” já foram elaborados, que todos os estudos de impactos ambientais já foram realizados.
Como ele não explicou que tais estudos analisaram os efeitos à “jusante” ou somente o que acontecerá com as praias de Fortaleza, fica a pergunta. E o que acontecerá com as praias dos outros municípios?
Aqui estou considerando que dada a rotação da terra em sentido anti-horário, o movimento do mar, seguindo o dos ventos é no sentido sul-norte. Assim, os efeitos serão nas praias ao norte de Fortaleza.
Para melhor compreender se esta hipótese é verdadeira resolvi conhecer o que aconteceu no Rio de Janeiro, cidade que aumentou o bairro do Flamengo, com um monumental aterro do mar, cuja areia veio de um morro que existia no centro da cidade. O período de construção desse aterro foi a década dos cinquentas do século passado.
Não minha surpresa que a partir de 1960, o mar começou a avançar sobre o Distrito (praia) de Atafona, município de São João da Barra, litoral norte do Estado do Rio de Janeiro. Isso será mera coincidência, ou minha hipótese está correta?
É claro que o aterro ora em foco não se compara ao que foi feito no Rio de Janeiro. A ampliação das areias nas duas praias de Fortaleza pois “somente” aumentará tais faixas em 75 mil metros quadrados. Isto equivale a uma área de sete quadras e meia.
Mas o preocupante é o que diz o geógrafo Jeovah Meireles, professor da Universidade Federal do Ceará. De acordo com aquele professor, um projeto desse tipo exige “estudos e execução avançados” E mais, ““O que está se querendo corrigir é um processo erosivo que tem sua fonte na ocupação inadequada das dunas, na degradação do sistema de manguezais, na ocupação inadequada das faixas de praia.” Ver www.opovo.com.br.
Ou, em outras palavras: o que o homem fez e faz nas praias à “montante” são os fenômenos responsáveis pelo que está acontecendo aqui em Fortaleza?
Dado que a continuar com tais intervenções a leste de Fortaleza, o fenômeno voltará a ocorrer, não seria mais prudente, corrigir as mazelas acima referidas para depois corrigir este fenômeno particular da cidade de Fortaleza?
Por outro lado, a ocupação da faixa litorânea de Fortaleza já começou errada quando se projetou a avenida beira mar com largura muito pequena e se permitiu que fossem construídos os edifícios de altura acima da altura que seria adequada para não barrar os ventos que sopram do mar. Este fato está transformando o clima da cidade. Fortaleza é uma cidade cada vez mais quente. E a famosa “brisa fortalesence”” tem cada vez menos força.
Espero é que não pretendam ampliar as pistas de rolagem da beira mar, invadindo cada vez mais o oceano, como fizeram no Rio de Janeiro.
O homem parece que ainda não aprendeu que a natureza não aceita que a prejudiquem. A sua resposta se não é imediata, é inexorável. Ela virá mais cedo ou mais tarde.
O problema é que neste caso não são os habitantes de Fortaleza que pagarão por essa agressão. Serão seus vizinhos a oeste.
É verdade que muitos pacientes de municípios vizinhos ao município de Fortaleza se beneficiam do sistema de saúde municipal fortalezense. Serviços pagos pelos fortalezenses? Não. Por que tais serviços são pagos pelo SUS, com verbas federais.
Desta forma, não há como compensar os cidadãos de Caucaia, São Gonçalo do Amarante, Pecém etc. por danos causados pelo alargamento da faixa de areia das praias de Iracema e beira Mar.