O que nos espera em termos socioeconômicos no ano de 2015?

PEDRO JORGE RAMOS VIANNA

PROFESSOR TITULAR DA UFC. APOSENTADO

Vou começar a tentar responder a esta pergunta mostrando os dados do último World Economic Outlook, publicado pelo FMI em outubro de 2914 (FMI, 2014). Para tanto, construí a Tabela 1, mostrada a seguir.

Como se pode ver, estão mostradas as previsões para 2014 e 2015 para as seguintes variáveis: PIB, Inflação e Balanço de Pagamentos em Conta Corrente. A distribuição dos países é feita por regiões (ou zonas). Quando de interesse nominam-se algum (ou alguns) países.

Que conclusões se pode tirar dessas informações?

A primeira é sobre o comportamento do Produto Interno Bruto. Dentro deste contexto, tem-se:

  1. As regiões e os países mais desenvolvidos apresentarão crescimento, no máximo, em torno de 3,0%, tanto em 2014 quanto em 2015;
  2. Os BRICS, exceção da China (acima de 7,0%) e da Índia (em torno de 6,0%) apresentarão crescimento abaixo dos 2,5%;
  3. Na América do Sul, no total dos países, o crescimento será pífio, puxado pelo decrescimento da Argentina e Venezuela e pelo baixo crescimento do Brasil (em torno de 1,0%), embora com crescimentos acima de 4,0% para Paraguai e Bolívia.

TABELA 1 – ECONOMIA MUNDIAL – PROJEÇÕES PARA PIB, INFLAÇÃO E BALANÇO DE PAGAMENTO EM CONTA CORRENTE

Fonte: Adaptado das Tabelas 2.1 a 2.7 do World Economic Outlook. FMI, october 2014.

d) A exceção é a África Sub-Saarina, puxada pelos países exportadores de petróleo e pelas economias de baixa renda daquela área, que deverá crescer acima dos 5,0%.

Desta forma, para este ano e para o ano que se avizinha, nas expectativas do FMI, ter-se-á pouco crescimento econômico para se comemorar. Em outras palavras, este serão anos de “vacas magras”.

Seguindo a linha de raciocínio anterior, discute-se agora o fenômeno da inflação mundial.

Aqui, porém, as perspectivas são um pouco melhores que aquelas para o PIB.

De fato, os países desenvolvidos apresentarão moderadas taxas de inflação. Para as economias avançadas a inflação deverá ficar ao derredor de 1,6% .Mas à medida que a renda decresce, os países apresentam tendências para inflações mais altas. Todas as regiões emergentes ou em desenvolvimento, por exemplo, apresentam tendência de inflação acima de 3,8%. Por outro lado, os países da CEI e da África tendem a apresentar inflação acima dos 6,0%. O Brasil está nesta faixa. Mas o campeão é sem dúvida a Venezuela, com previsão para uma inflação acima dos 62,0%.

Para este último país, soma-se queda no PIB e inflação acelerada. Tem-se, então, uma situação de “estagflação”. O mesmo deve ocorrer com a Argentina, embora não se tenha os dados para a taxa de inflação naquele País, por manipulação do índice por parte do governo de Cristina Kirchner.

No que diz respeito ao terceiro tópico levantado, o balanço de pagamentos em conta corrente, as perspectivas de comportamento para 2014 e 2015, também não são animadoras

É claro que quando visto globalmente, este é um jogo de soma zero. Mas olhando os dados por região (ou zona) ou por países, algumas considerações podem ser assacadas.

A primeira é que as taxas previstas são também modestas, exceção para a Zona do Euro (taxas acima de 11,0%) e para os países exportadores de petróleo do Oriente Médio (taxas ao derredor de 10,0%).

Para os outros países, as taxas situam-se abaixo dos 7,0%, mas com vários deles apresentando taxas negativas, inclusive o Brasil.

Dentro deste contexto, vale acrescentar o pensamento de algumas autoridades acadêmicas ou institucionais sobre as perspectivas para a economia internacional para um futuro próximo.

Comecemos com as autoridades do FMI , do BCE., do FED e dos líderes dos Estados Unidos e da China..

No dizer da Diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde “há possibilidade de o mundo ficar algum tempo preso no chamado ‘novo medíocre’” (Valor, 03/10/2014, pág. A9) . Ou seja, há o perigo real de o mundo crescer a taxas muito baixas por um tempo não muito curto.

Dada a situação da Zona do Euro, onde a crise financeira e econômica ainda não foi debelada, a problemática mais discutida é a possibilidade de uma nova crise financeira o que agravaria sobremodo a crise econômica de         “quase” uma estagflação. De fato, a grande discussão está centrada em duas vertentes: uma, o papel do Banco Central Europeu para dar garantia ao problema de solvência dos grandes bancos e o uso da política monetária como alavancadora do desenvolvimento. O problema aqui é que alguns países, como a Alemanha, por exemplo, não concordam em promover o estímulo ao crescimento via política monetária. A querela centra-se na opinião de Mario Draghi, Presidente do Banco Central Europeu e na opinião da Premier .Angela Merkel, que se recusa a prover mais fundos para o BCE.

Na opinião de alguns especialistas como o a do Prof. Larry Summers, a “Europa está sob o risco de repetir o Japão” (Valor, 10/10/2014, pág. C12). Ou seja, entrar em um processo de estagflação.

Dentro deste contexto, o que está em jogo é o plano do Presidente do BCE, Mario Draghi de revitalizar o mercado europeu de títulos lastreados em ativos, para resolver o problema de liquidez dos bancos da zona do euro.

Por outro lado – e do outro lado do Atlântico – o FED, o Banco Central Americano, joga um papel extremamente importante para a recuperação da economia daquele País. No dizer do Vice-Presidente do FED, Stanley Fischer (Valor, 10/10/2014, pág. C1), a economia americana pode crescer razoavelmente bem mesmo em um cenário em que o mundo avança a taxas modestas. Mas ressalta que os americanos têm que bem administrar sua economia. E aqui é que o FED joga papel primordial para o estabelecimento de uma taxa de juros que induza a um novo surte de investimentos.

Entretanto, pelo seu tamanho e importância, a economia chinesa também é acompanhada com bastante atenção pelos analistas internacionais.

É que embora crescendo em um ritmo em torno de 7,0% (um excelente ritmo de crescimento, diga-se de passagem), o País apresenta alguns problemas que preocupam não só os analistas como as lideranças dos países desenvolvidos.

Aquele País apresenta alguns senões que precisam ser cuidadosamente observados. O primeiro deles é a enorme dívida criada com a expansão do crédito bancário dos cidadãos. Hoje, estima-se que a dívida privada na China esteja na casa dos 250% do PIB. As previsões é que a China pode sofrer uma desaceleração maior que a esperada, se a demanda perdida com a diminuição do crédito for suficientemente forte e demorada.

Chama-se, ainda a atenção para o papel dos chamados “shadow banks”, instituições que ficam à margem da regulamentação do governo chinês e que têm suprido de crédito governos locais, sem o beneplácito do governo central. A possibilidade de calote desses governos não é irreal. O que o Governo Central fará,se isto acontecer? Os analistas advertem que o governo chinês deve começar a olhar para este problema o mais rápido possível.

Em resumo, a situação da economia mundial não é deseperadora, mas também não é um mar de rosas. Talvez os Estados Unidos e a China sejam as únicas economias que no momento podem trazer alguma expectativa de crescimento continuado já no curto prazo.

Toda essa incerteza, obviamente, traz preocupação para os candidatos a presidente do Brasil. E para a população, o que nos espera?

Claramente há uma divergência fundamental entre os candidatos: um prega um sistema socialista-paternalista-populista; o outro, a racionalidade da política neoliberal. Quem ganhará? No dia 26 de outubro teremos esta resposta. Mas o que nos espera para 2015, de nada sabemos.

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