PEDRO JORGE RAMOS VIANNA
Ao analisar a composição setorial do parque fabril brasileiro, pode-se chegar à conclusão que os dois parques fabris são muito semelhantes.
Para se chegar a esta conclusão basta analisar quatro indicadores: a) a participação do número de empresas, por porte, no número total das indústrias existentes; b) o número de emprego industrial (por porte de indústria) no emprego total; c) a distribuição (ranking) dos setores industriais, para o Ceará e para o Brasil; d) a participação dos produtos industrializados nas exportações totais do Brasil e do Ceará.
Os dados da Tabela 1 e da Tabela 2, abaixo, formam a base da análise aqui efetuada.
Comecemos com o primeiro indicador.
A PARTICIPAÇÃO DO NÚMERO DE EMPRESAS, POR PORTE, NO NÚMERO TOTAL DAS INDÚSTRIAS EXISTENTES
O Quadro 1 abaixo mostra, para o Ceará e para o Brasil, em cada região, a participação de cada porte de indústria, na indústria em geral.
QUADRO 1
CEARÁ E BRASIL
PARTICIPAÇÃO, POR PORTE NO PARQUE FABRIL
Ceará
PORTE | PARTICIPAÇÃO % |
MICRO | 82,56 |
PEQUENA | 14,09 |
MÉDIA | 2,88 |
GRANDE | 0,46 |
Brasil
PORTE | PARTICIPAÇÃO % |
MICRO | 83,66 |
PEQUENA | 13,05 |
MÉDIA | 2,80 |
GRANDE | 0,52 |
TABELA 1
CEARÁ – NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS E EMPREGO FORMAL – DEZ. 2010
TABELA 2
BRASIL – NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS E EMPREGO FORMAL – DEZ. 2010
Veja-se que enquanto no Ceará as microempresas respondem por 82,56% do total das indústrias instaladas no Ceará, elas perfazem um total de 83,63% do número de indústrias componentes do parque fabril brasileiro.
Se tomarmos as pequenas empresas, estas participações são 14,09% e 13,05% para Ceará e Brasil, respectivamente.
O mesmo fenômeno, de quase nenhuma diferença entre as participações no total das indústrias, ocorre para as médias e grandes empresas.
Desta forma, em termos de distribuição por porte de empresas industriais, Ceará e Brasil são praticamente iguais. O que chama a atenção é que no Ceará as microempresas têm peso menor quer no Brasil.
A PARTICIPAÇÃO DO NÚMERO DE EMPREGOS, POR PORTE DE EMPRESA, NO NÚMERO TOTAL DO EMPREGO INDUSTRIAL
QUADRO 2
CEARÁ E BRASIL
PARTICIPAÇÃO, POR PORTE DE INDÚSTRIA, NO EMPREGO TOTAL DE CADA PARQUE FABRIL
Ceará
PORTE | PARTICIPAÇÃO% |
MICRO | 16,00 |
PEQUENA | 25,50 |
MÉDIA | 25,36 |
GRANDE | 33,14 |
Brasil
PORTE | PARTICIPAÇÃO % |
MICRO | 17,70 |
PEQUENA | 25,12 |
MÉDIA | 26,59 |
GRANDE | 30,60 |
Como se pode ver, também no que diz ao quantitativo do emprego de cada porte de empresa no emprego industrial total, a situação da indústria cearense é muito semelhante à situação da indústria brasileira.
Corroborando o que se constatou quando da comparação envolvendo o número de estabelecimentos, a situação das microempresas no Ceará é menos relevante que o papel dessas empresas no Brasil, enquanto empregadoras.
Vale chamar a atenção para o fato de que, tanto no Ceará quanto no Brasil, as microempresas são menos empregadoras que as grandes empresas, fato que nem sempre é acreditado. Os dados, entretanto, não permitem outra conclusão.
A DISTRIBUIÇÃO (RANKING) DOS SETORES INDUSTRIAIS, PARA O CEARÁ E PARA O BRASIL
Olhando-se, agora, para a distribuição, por tamanho de setor, da colocação de cada um deles no contexto do parque fabril da região, verifica-se que dos quinze setores listados, em nove deles, a mesma ordem de importância é comum ao Ceará e ao Brasil.
Esta é mais uma evidência que os dois parques fabris, na média, são muito semelhantes.
O que chama a atenção é a importância do setor da construção civilque ocupa o primeiro lugar, tanto no Ceará quanto no Brasil. Também vale mencionar que os dois setores em ordem de importância, têxtil e vestuário e alimentos e bebidas, o são para Ceará e Brasil.
Por que, então, se afirma que o parque fabril nacional é “mais sofisticado” que o parque fabril cearense. As evidências negam esta afirmativa.
Mesmo porque as diferenças de posições apresentadas pelos ostros setores são muito próximas. Veja-se que o setor produto mineral não metálico ocupa a 7ª posição no Ceará e a 8ª no Brasil. A diferença mais acentuada é para o setor calçados que ocupa a 9ª posição no “ranking” cearense e a 11ª no “ranking” brasileiro.
QUADRO 3
CEARÁ E BRASIL
COMPOSIÇÃO SETORIAL, MEDIDO POR NÚMERO DE ESTABELECIMENT0S, NO CEARÁ E NO BRASIL
Ceará
RANKING | SETOR |
1º | Construção Civil |
2º | Têxtil e Vestuário |
3º | Alimentos e Bebidas |
4º | Indústria Metalúrgica |
5º | Madeira e Mobiliário |
6º | Papel e Gráfica |
7º | Produto Mineral Não Metálico |
8º | Indústria Química |
9º | Calçados |
10º | Borracha, Fumo, Couro |
11º | Mecânica |
12º | Serviço de Utilidade Pública |
13º | Extrativa Mineral |
14º | Material de Transporte |
15º | Material Elétrico e de Comunicação |
Brasil
RANKING | SETOR |
1º | Construção Civil |
2º | Têxtil e Vestuário |
3º | Alimentos e Bebidas |
4º | Indústria Metalúrgica |
5º | Madeira e Mobiliário |
6º | Papel e Gráfica |
7º | Indústria Química |
8º | Produto Mineral Não Metálico |
9º | Mecânica |
10º | Borracha, Fumo, Couro |
11º | Calçados |
12º | Extrativa Mineral |
13º | Serviço de Utilidade Pública |
14º | Material de Transporte |
15º | Material Elétrico e de Comunicação |
Finalmente, podemos analisar o quarto indicador:
A PARTICIPAÇÃO DOS PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS NAS EXPORTAÇÕES TOTAIS DO BRASIL E DO CEARÁ
Partindo das informações fornecidas pela SECEX/MDIC, foi construída a Tabela 3, onde são mostradas as participações das exportações de produtos industrializados nas exportações totais do Ceará e do Brasil.
TABELA 3
CEARÁ E BRASIL
PARTICIPAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS NAS EXPORTAÇÕES TOTAIS
2000 – 2012*
ANOS | CEARÁ | BRASIL |
EXPIND /EXPTOT (%) | EXPIND /EXPTOT (%) | |
2000 | 57,61 | 74,49 |
2001 | 65,59 | 70,69 |
2002 | 61,67 | 69,55 |
2003 | 65,50 | 69,27 |
2004 | 66,22 | 68,86 |
2005 | 67,49 | 68,61 |
2006 | 68,37 | 68,61 |
2007 | 70,47 | 65,82 |
2008 | 71,46 | 60,50 |
2009 | 64,85 | 57,42 |
2010 | 66,92 | 53,37 |
2011 | 64,52 | 50,20 |
2012* | 72,78 | 51,24 |
*Até abril.
Dentro deste contexto, podemos dizer que as semelhanças entre os dois parques fabris não existem? Se tomarmos a média das estatísticas, a resposta é afirmativa. De fato, na média, no Ceará, as exportações de produtos insdutrializados corresponde a 66,41% das exportações totais do Estado. No Brasil, este percentual é de 58,46. Portanto, há uma diferença de 8 (oito) pontos percentuais, o que é significativo.
Também contribui para acentuar a diferença entre os dois parques fabris, o fato de eles se comportarem, quanto a este fenômeno, de maneira completamente opostas. Enquanto no Ceará, o setor industrial participa cada vez mais com as exportações estaduais, no Brasil ocorre o contrário: cada vez menos os produtos industriais participam das exportações do País.
Talvez seja este fenômeno que determinou dizer-se que o Brasil é um país exportador de “commodities”, haja vista que exportações de produtos industrializados têm cada vez menor importância no mercado externo brasileiro.
A conclusão, portanto, que se pode tirar desta análise é que os dois parques fabris, quanto à composição, são semelhantes, diferindo, apenas, na importância deles para as exportações totais das duas regiões. O sistema econômico cearense está cada vez mais dependente do mercado externo, o que o deixa vulnerável à crise internacional. Mas este é um assunto para outro artigo.